Uma Justiça suspeita é uma Justiça indigna
Chegamos a
um ponto neste país em que a credibilidade que restava – nos tribunais, nos
juízes, no sistema judiciário – está cada vez mais minada.
Nos
últimos anos, a nata da sociedade portuguesa caiu nas redes da justiça, entre
processos intermináveis de acusações, horas a fio de transmissões televisivas,
milhares de páginas de jornal que se dedicaram a mostrar ao país que a justiça
não se restabelece da confiança, a justiça credibiliza-se todos os dias.
Mais do
que qualquer outro poder, os agentes da Justiça tinham o dever de se manter
como o último reduto da verdade, da credibilidade e confiança.
Porém, o
envolvimento de várias figuras na mesma malha de crimes, tem trazido à tona
problemas que julgávamos menos graves do que realmente o são.
O último a
cair nas malhas da própria casa é Rui Rangel, juiz desembargador do Tribunal da
Relação de Lisboa, acusado da eventual prática dos crimes de
corrupção, recebimento indevido de vantagem, branqueamento, tráfico de
influências e fraude fiscal qualificada.
A ele juntam-se outros juízes e magistrados acusados em
outros processos públicos e dramaticamente tristes.
Para onde se vira então o cidadão quando crimes como estes
chegam às cúpulas mais altas da magistratura? Os tribunais, pese embora a
imagem dolorosa que temos das suas tamanhas demoras, são, para todos os
portugueses, o derradeiro símbolo da esperança. São o último alento na balança
de justiça que este país tanto deseja.
Porém, uma
justiça suspeita é uma justiça indigna. E é por isso que cada vez mais temos
todos a convicção de que já nem a senhora dona Justiça nos vale. Até para a
semana.
Crónica de 5 de fevereiro de 2018, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.
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