A Inteligência Artificial e o Jornalismo
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Foto: Pixabay |
Ponto prévio. Não sou contra o uso da Inteligência Artificial (IA). Pelo contrário, considero que nos pode ser muito útil em algumas tarefas e necessidades.
No que ao jornalismo diz respeito, a conversa, até agora é outra. E falo por exemplos que conheço, à minha volta, e que me têm dado voltas ao estômago. Há jornalistas que se estão a demitir (ainda mais) da sua missão. Do suor. Do esforço. Da compreensão. Pedir ao Chatgpt que faça uma entrevista por eles e que escreva textos por eles é só a maior irresponsabilidade alguma vez vista. Mas está a acontecer e a tornar-se um padrão. Um dia destes fiz esse exercício para perceber até que ponto a máquina seria uma ajuda decisiva. Foi horrível. A forma de escrita, as banalidades, apenas e só um chorrilho de informações que, mudando o tema, podiam ser adaptadas a qualquer assunto. Eu já o sabia porque já o tinha testado há muitos meses. Mas, de facto, saber que há jornalistas que no seu dia-a-dia abdicaram de fazer o trabalho de casa, a mim dá-me náuseas.
Por mais que a tecnologia seja útil (e é) ela nunca terá a memória, as vivências, o contexto, a sabedoria acumulada e, acima de tudo, a disciplina, experiência, formação e talento de um ser humano. São todos estes fatores que, juntos, contribuem para o sucesso de qualquer trabalho e missão. Abdicar de tudo isto, deixando nas mãos de uma máquina a construção do nosso trabalho é, apenas e só, sermos desistentes de nós mesmos.
Este post é apenas um grito de alerta, sobretudo para aqueles que perderam a noção do que é usar a tecnologia para melhorar o seu trabalho e que a usam para se demitirem de ter esforço e suor. Uma máquina nunca vai ter as mesmas capacidades que um ser humano. Em várias dimensões. Eu posso perguntar à IA quem é Marcelo Rebelo de Sousa. Mas a IA nunca saberá o que eu sei, porque ela não o conhece, nunca passou uma vida a falar com ele, não lhe conhece a vida, nem as histórias, nem o que disse em Freixo de Espada à Cinta, sei lá, em 2002, e que por qualquer razão em 2025, isso impacta numa decisão que toma.
Se não invertermos esta tendência, que parece que veio para ficar, o destino da profissão, está ainda mais no inferno, e vai arder ainda mais rapidamente. Cabe a cada um a sua escolha. O resto? O resto não interessa nada.
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