O "portismo" que fica, vai (e há-de voltar).




Paulo Portas decidiu abandonar a liderança do CDS-PP ao fim de 16 anos de vida partidária pura e dura. Já muito se escreveu e muita tinta ainda há-de correr sobre a sucessão de um dos políticos mais profissionais das últimas duas décadas em Portugal. Goste-se ou odeie-se, Paulo Portas é produto de uma escola política e partidária cada vez mais em extinção. Ao longo destes anos, Portas fez o que melhor sabia: liderou com mão de ferro os destinos de um pequeno partido que, tantas e tantas vezes, correu o risco de desaparecer. Promoveu, com astúcia, um pequeno grupo de jovens quadros a quem entregou responsabilidades claras, umas no partido, outras na governação do país e outras ainda nos palcos europeus. Nuno Melo, Assunção Cristas e Pedro Mota Soares, para me referir apenas aos que se tornaram putativos sucessores com mérito e provas dadas, são os nomes que surgem com a saída de Paulo Portas. Não vale a pena entrar em especulações sobre qual deles poderá vir a liderar o partido, vale sim a pena lembrar a urgência de o CDS fazer internamente um sério debate sobre qual o lugar que pretende ocupar no espectro político nacional. Em 2015, o país claramente partiu-se ao meio, entre esquerda e direita, na sequência das legislativas de outubro. Nunca, como até aqui, se viu uma corda tão equilibrada no jogo de forças ideológico. Saber onde se posicionará o partido a partir de agora é essencial. O CDS já não é apenas um pequeno partido de oposição. As coligações de que fez parte, para o bem e para o mal, conduziram-no ao outro lado, onde estão os tradicionais partidos de quadros e poder do sistema. A redefinição do que pretende ser, do ponto de vista do eleitorado tradicional e do novo, será outro ponto primordial nessa discussão. Portas deixou bandeiras incontestáveis no Largo do Caldas. Temas como a Agricultura, o Mundo Rural, o Mar e a Economia foram escolhidos cirurgicamente, tendo colocado o partido na linha da frente dessas bandeiras, tanto na Oposição como no Governo. Resta saber como o próximo líder poderá abrir mais o partido, sobretudo ao eleitorado urbano. Independentemente de Portas voltar, fez bem em sair. Encerrou-se um ciclo político que abre um pano sem cor para o ainda atual líder centrista. Este é um novo tempo para todas as forças políticas. O CDS não é exceção. Cá estaremos para ver onde o futuro levará o CDS, e se com ou sem PP (a sigla querida de Paulo Portas). Mas apostamos que esta saída jamais será um fim para o animal político do Largo do Caldas. O tempo o dirá.

*Crónica de 4 de janeiro de 2016, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.

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